Powered By Blogger

quarta-feira, 22 de julho de 2009

IMAGENS E REFLEXOS

Por não se traduzir tão bem quanto desejara, sem interação e com desânimo, o Poeta silenciará. Não dirá do sentimento nem do que é factível. Vai calar o que não leem ou ouvem. Tudo parece inarticulado. Parece que finge e não é. Então, vestirá o que representa e não precisará esforçar-se para dar à luz o que é no fundo.
E pensa: “Ignoremo-nos se sei mal de mim e de mim mal sabem, pois me entortam e entorto. E tudo é só um painel em que me retrato e em que retratam, em traços que mal esboçam. E eu não sei o que é real e o que é virtual. Sei que nada é definitivo, mas uno e desagregado e perdido em si mesmo.”
Disperso e abstrato, tudo é um grito que não se escuta, que vibra a alma como cordas de um instrumento melódico e sem canto, jogado a um canto.
O que no fundo briga, reluz, obscurece, continuará, mas em repouso. Não se expedirão sinais, e quem sabe acabará o Poeta paranóico ou entediado, qualquer coisa..., certamente desadaptado.
O seu céu relampeja, deita chuva e faz sol. Há auroras e crepúsculos. Quem o nota? Não está fora. Tudo subjaz numa clausura que não se desfaz e que também faz...
Sente-se velho diante de um menino que ainda é, furtivos os dois estados em que se confunde e em que o confundem. Fica esquecido... Até de si. Mas se tudo está latente, poderá aflorar, lentamente ou aos borbotões, com gosto ou à revelia, no seu exercício, no exercício do outro.
Embalado em pensamentos, lembra que precisa retomar a lida do dia-a-dia e vislumbra um quadro. Entrevê em imagens o que poderia ter sido e o que poderá ser. Fica no meio de tudo, brigando para não se perder para além ou aquém de si mesmo. Ele é lentamente factível e soletrador lento de verdades que reputa essenciais para si.
O Poeta leva o dia para a noite, que lhe traz outro dia, esquecido que decidira nele não entrar de todo, e começa tudo outra vez, ensaio após ensaio. E a vida acontece à revelia. Numa saudação acanhada, ambos se experimentam. E ele pensa e ensaia e
aprende...

-------------------------------------------------------------------------------------

Quando o homem nasce, sua essência lhe é latente e deve desabrochar. Sair do estado latente implica em os embates de si no mundo e deste em si. Em outras palavras, o que floresce - e não é tudo - nasce dos conflitos.
Há condições previamente determinadas que retêm e contêm o ser e que este retém e contém... Há fatos e condições incidentais, secundários, relevantes, irrelevantes... que o ser cria, que se criam... De que se gosta ou não, que se captam ou não, mas há, e tudo está, e pouca coisa é, não se sabe ou se sabe sem conscientizar, ou se conscientiza sem saber... Mas sabe-se uma coisa: o ser está em construção e concorre ora revel, ora num arremesso menos inconsciente e mais espontâneo de si no mundo.
Muita coisa muito infelicita, pouca tranqüiliza ou deixa contente. Ah, a alma está a caminho, sempre a evoluir nos encontros e desencontros, na busca do ponto, em rendição e/ou exaltação ao Imenso Desconhecido!
A vida é efêmera e o homem não compreende a si mesmo. É difícil desvendar-se. Por isso, muito equivocadamente nos julgam os circunstantes. Há leviandade em tomar o aparente pelo real e essencial.
É preciso descobrir o predominante, discernir o acidental do constante, não
divorciar a pessoa do meio, pois este realiza influências naquela. A pessoa só é abstração do meio em seu grau máximo de pureza, e este só Deus pode aferir. Não se pode esquecer que as sutilezas do espírito são tantas que embaraçam, embaçam, cegam. Os estados da alma são, às vezes, inefáveis, de natureza incompreensível e imponderável para doutos e pretensos psicólogos. Há um complexo determinante de causas e efeitos, um mundo psíquico, cuja imaterialidade não se pode fotografar. O que se vê fora se esboça às vezes tão mal, que nem de longe se compõem os retratos reais.
Cientes da impotência de que somos dotados para conhecer a verdade, insistimos inobstante em classificar. Que assim seja, se precisamos procurar aqueles que cremos ou intuímos serem os que mais casam com nossos ideais de relacionamento. Não se perca de vista, no entanto, que o verdadeiro não tem que ser o convencional ou o ligeiro, que signos e símbolos podem ser enganosos. Que o classificar não signifique exercício mecânico e precipitado de incluir ou excluir aqueles que passam ou ficam. Ou nos deixam à margem, pois só a interação é o caminho e o alvo. E todas as mãos se estendam!
A solidariedade, na acepção ampla ou ampla e autenticamente praticada, deve ser vivida a priori no coração. Honesta e firmemente buscada, nos livrará de trair a nós mesmos e nos conduzirá à harmonia possível, na convivência com o heterogêneo da vida.
É preciso viver superficialmente, imperfeitamente desenvolver a filosofia do estar, não esquecendo que em tudo, lentamente, se desenvolve a filosofia do ser.
O homem é um segmento. Não sabe onde o ponto zero ou em que ponto da régua está. Ou da regra? A vida é um encadeamento de experiências ao longo de uma cronologia, cujo ápice se desconhece. Protrai-se e por partes se realiza, traduzida em estágios de maturidade. Sabe-se: nada é acabado de forma estanque, que justifique pensar que tudo resultou em fracasso. Ou que tudo se completou.
No tempo decorrido colheram-se frutos e outros se colherão, e o mais sazonado que se pode, é no presente desenvolver alguma docilidade e calma. Não esperar tanto, compreender melhor que não há o que entender a fundo e definitivamente... Só estar dentro dos dias, sem preguiça, medo ou desespero, trocando impressões e experiências de todos os matizes, pois há nuanças nos amanheceres e anoiteceres, numa formação sempiterna do caráter final e tão fugidio.
Todos temos estórias que se nos apresentam e servem de maneira singular. Os elementos, o lugar e as circunstâncias de que se reveste a estória são mosaicos, símbolos, e não o valor todo, o valor em si. Ocorre que os confrontos importam e só eles trazem a essência de que precisam matéria e espírito para bem da filosofia e sociologia práticas.
É preciso dar e receber, de modo possível e de forma continuada. Se o destino for desafinar, haverá quem desafine do mesmo modo para desafinação conjunta na vida, mas de mãos dadas.
Tudo como é, é necessidade da natureza humana, que é como paisagens
desmaiadas de um cenário mal vislumbrado de um caminho metafísico.
Neste mar de individualidades há os que vivem introspectivamente e são de duas características: os que fogem por covardia e ou timidez e os que, fugindo, mergulham em si para explorar o universo interno para, paradoxalmente, descobrir o mundo que há fora. Que é sempre receptivo. Basta que o aceitemos, pois as coisas não têm que ser, elas são... simplesmente. Ruminar e dirimir a dificuldade é trabalho de quem quer desabrochar e conhecer o mundo. Remoer e recolher-se, odiando o mundo, não é o caminho para achar-se a si mesmo. É preciso liberar as emoções, estudá-las e esclarecer, e não afogá-las, pois viver em paz e harmonia é achar o belo, é achar-se a si mesmo no mundo e este em si.
O homem precisa desembaraçar-se de preconceitos, respeitar o grande e o pequeno indistinta e genericamente, amando o individual, que não é tão identificável, inteiro e próximo, mas está no todo. Amar a si é amar o outro e amar o outro é amar a si.
As crises existencialistas, em alguns casos, são tão necessárias quanto o ar para a vida física, moldam a personalidade e enriquecem o espírito, tirando-o da infância. Não nos bastarão conselhos, sinais e direção indicada ou traçada. A plenitude que buscamos- a possível- e queremos, ou se nos reserva, só alcançamos por nós mesmos, com sofrimento, luta, perseverança e trabalho. O espírito vai elaborando o ego subjacente e formando os caracteres do homem em construção, a partir do fluxo e refluxo das ondas desta vida-oceano.
Fazer-se um inventário, tendo à frente conquistas e derrotas, ganhos e perdas, e traçar-se um auto-retrato!... Em ambos os casos não se prescinde da memória e conta a atenção dispensada aos fatos e verdades, mas no segundo caso, mais do que no primeiro, necessita-se da inteligência cognitiva, a que sonda e busca com sagacidade e eficiência possível, classificar e conceituar tudo em tudo. Ah, como é difícil conceituar e dar como certo o que varia de timbre e matizes na voz e nas cores dos símbolos!
Natureza e também necessidade da vida, profunda ou superficialmente todos sondamos e buscamos uma verdade que possamos defender sobre nós mesmos e sobre a realidade que tangenciamos. Será uma perda e um sofrimento irmos muito fundamente na busca de uma realidade geral e abrangente, quando se vive numa que é circunscrita e basta ao individual. Mas quanto bastará para sermos individuais? E efetivamente sê-lo é a medida de estarmos no mundo? Com certeza, não, nem do ponto de vista das convenções, nem do das reais necessidades de evolução (e a evolução é forçosa). Buscar e obter conhecimentos para a sabedoria possível e cabente a cada um, segundo capacidade e necessidade, tudo dirigido pela boa vontade, eis o que há de comum, eis o caminho encontrado por trilhas. Quem buscar mais, sofrerá mais dores e mais intensamente do que aquele que pensa que nem busca, mas as suportará melhor e com menos prejuízo do que este, que terá em sua dor inconsciente o retardamento do encontro. Um e outro, com limitação; o que importa é encontrar a calma.
O que há é distribuição de responsabilidades que faz o Criador, numa aferição de grau de capacidade de suportar a individual carga de vida. No gráfico da evolução, as linhas mostram a ascensão do individual e a ascensão e o declínio do coletivo, desenhando os ápices e as depressões, num estado de coisas tal em que tudo é consolo, perdão, recompensa, pena e concessão de chances.
A gente faz um esforço para explicar e entender o estágio em que está, o ser e o merecer isto ou aquilo, o ter e o não ter, recorre ao imenso painel e todos os sinais indicam. Busca os erros e os acertos, encontra culpa e absolvição, e tudo cala no fundo. O que se expressa na gente e para a gente é titubeante, faz um esboço e continua errante e incerto a fazer um retrato, que nunca é final, e sempre é pouco nítido.

------------------------------------------------------------------------------------

Sonho é sobrevida; vontade, força que move o homem, e símbolos, um quadro de realidades virtuais.
Na quietude do quarto, invadido por recortes de luz, jaz o corpo sobre a cama. O espírito, aonde? Viaja abraçando verdades, construindo uma vida etérea de fatos acontecidos, em acontecimento e por acontecer. O espírito sonha, e a vontade, boa ou má, é o que nos retrata.
O homem, em espírito, enquanto dorme, numa morte aparente e provisória, toma contato com as verdades puras. Dorme, acorda e aprende, num processo cíclico, lá e aqui, a ser uma verdade quase plena. Ter-se a si mesmo tão bem, que muito possa dar, que, enfim, possa eclodir todo o ego. Que nem ego seja, mas elo e se faça corrente, encontrando a senda e o portal da felicidade possível.
No sono projetam-se inquietações: o que nos frustra e aquilo a que aspiramos. O mundo em nós e nós no mundo e em nós mesmos, num convívio atribulado ou calmo (ou uma coisa e outra, em revezamento ou confusão); a estória que fazemos e de que nos fazemos, passo a passo, num interminável e indelével gravar de experiências, pobres, ricas, simples, complexas, mas todas válidas para o atingimento de pontos progressivos numa reta.
A consciência desperta, normalmente não retoma as realidades vividas no sono, no que significa tomar os símbolos, recordando-os, para a exata interpretação e compreensão. Mas tudo se move dentro da vontade, e é esta que espraia e materializa no homem acordado os impulsos do seu foro íntimo.
O que mais se pode fazer se não lembrados os sonhos e na alegoria tudo se perde para a consciência ou pouco fica para aplicar no dia desperto? Sentir a relva sob os pés e o cheiro de flores e frutos por colher. Contemplar, perseguir, seguir...


------------------------------------------------------------------------------------


Às vezes, o fato de não se obter o objeto da carência é para que possamos crescer como criatura intelectual e moral.
Firmar a vista no futuro e sentir que é bom o que falta desenvolve o sentido da busca e norteia o homem para a consecução. O caminho que então se toma será curto ou longo, fácil ou difícil, certo ou errado, mas com acidentes, incidentes e peripécias ricas de humores, ora folgando, ora atribulando o espírito, mas pleno de lições.
O que parece um golpe fundo e toma dimensão de fracasso e inspira uma tristeza
crônica ou duradoura, não deve ser tal que machuque ou dure mais que o necessário para aprender... Aprender a discernir, projetar, valorar, buscar, conquistar, perder, renunciar, frustrar-se... Não deve ser tal que desencadeie danação e descrença no espírito, pois valerá sempre para salientar a incorreção da seta ou do alvo, ou do percurso, ou grau de dificuldade de alcance.
As linhas principais por que se conduz uma pessoa ou que traçam sua trajetória são fixadas e delas não se declina. Fossem outras e a estória não seria a mesma, a pessoa não desenvolveria o que tivesse que desenvolver. O erro pode ser acerto, a tristeza atual uma alegria futura, e o dissabor de não realizar agora, a base de uma realização sólida, amanhã.
O ter algo pode ser recompensa, como pode ser lenitivo para uma dor inevitável, leve ou intensa, tanto quanto uma dor certa- que parece injusta- pode prenunciar uma glória iminente, porque, enfim, é caminho e instrumento de evolução.
E o Poeta se diz: “Tenho o que mereço, na medida em que trabalhei para obter, e obtive porque aprendi a obter; e se conservo indelevelmente no espírito, de par e em contrapartida ao que se destrói na memória, é porque Deus não me emprestou, mas concedeu para durar, e está em mim perpetuar o que é bom”.
O estar no mundo sem um caminho pronto, por mais pronto que o façam e
se o encontre é condição para o homem crescer. Achar o caminho é exercício do espírito e não da vista, pois o homem todo (com seu abstrato) é que rompe, passa e fica, ainda que discretos sejam os sinais.
E o Poeta chora ou ri, fala ou cala, odeia ou ama, tudo junto ou em cada
tempo; confusa ou claramente tudo chega e não basta para sentir. E a poesia é tudo que repete, inova, não envelhece, vive, palpita, não estanca e está... Isso tudo no âmago e na periferia de uma vida sofrida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário